sábado, 12 de março de 2011

Na “Terra da Democracia”: Estado Burguês versus Sindicatos

Há um século o fascinante jornalista John Reed ¹ se deixava levar preso para conseguir furar a censura imposta pelos grandes jornais da época sobre uma greve que sacudia New Jersey. Cem anos depois é a imprensa brasileira que não gasta uma linha sequer com o golpe que os republicanos estão dando nos funcionários públicos em Wisconsin – estado do meio-oeste estadunidense famoso por seu sindicalismo forte e atuante.

Como Karl Marx, de quem Reed era admirador, vaticinou no 18 Brumário de Luís Bonaparte: a história acontece como tragédia e se repete como farsa.


Governador de Wisconsin ganhou batalha, agora começa a guerra


Via Prensa Latina

Wisconsin, 11 de março. O governador Scott Walker ganhou uma batalha contra os sindicatos em Wisconsin, depois de três semanas de confrontos, mas a luta se estenderá para além de Madison, afirmou hoje o jornal The Washington Post.

O jornal informou sobre a decisão dos líderes sindicais de levar a luta a outras cidades.

Os dirigentes sindicais ameaçaram fazer campanhas revocatórias contra senadores republicanos, e os conservadores apostaram o mesmo contra os democratas que fugiram de Wisconsin para frear a lei antissindical.

Para o secretário-tesoreiro da Federação Americana de Empregados Estatais, Lee A. Saunders, este é apenas o começo, uma pequena batalha ganhada pelo governador.

Walker conseguiu passar a lei com a ausência dos 14 democratas do Senado ao separar o projeto de lei de medidas fiscais, para o qual se exige o voto de 20 membros.

Essa manobra legislativa é questionada por muitos e se prognostica uma reclamação do Partido Democrata.

Na opinião do consultor político republicano, Michael Murphy, ficaria por ver se a saga de Wisconsin estabelece batalhas épicas similares em outros estados, ou fica apenas como uma experiência edificadora.

Isto -acrescentou- pode incentivar outros governadores, mas também deviam ver os golpes.

Alguns consideram que Wisconsin quiçá não tenha sido o melhor detonante, dado os privilégios de negociação existentes ali desde 1959, quando mais da metade dos estados da União carecem hoje dessa prerrogativa.

Isso faz experientes pensarem que se por aí começou a luta e dessa maneira, como poderá ser no resto dos estados, onde os governos também pretendem transferir o problema fiscal aos trabalhadores.

Os líderes sindicais chamaram a atenção para o fato de que a ofensiva antissindical republicana seja feita em estados onde poderia existir uma vitória democrata nas eleições de 2012.

Socavar o sustento financeiro e eleitoral do Partido Democrata é para muitos a razão da agressiva atitude dos republicanos contra os direitos de negociação dos trabalhadores públicos.

Os republicanos, pelo contrário, sustentam que a única saída para o déficit orçamental -que em dois anos chegará a 3,6 bilhões de dólares- é realizar os ajustes em serviços de saúde, pensões e salários.

Os senados de Illinois e Michigan aprovaram leis similares contra a negociação coletiva sindical e em igual medida cresce o descontentamento entre os trabalhadores públicos.

¹ John Reed, (Portland, 22 de Outubro de 1887 — Moscou, 19 de Outubro de 1920), jornalista e ativista estadunidense. Acompanhou a Revolução Mexicana como correspondente internacional e acabou se aproximando de Pancho Villa. Pouco depois acompanhou de perto a Primeira Guerra Mundial na Europa, interessando-se pelos acontecimentos que se desdobravam na Rússia. Escreveu o livro "Dez dias que abalaram o Mundo", em que relata em primeira-mão os acontecimentos que constituíram a Revolução de Outubro em que os bolcheviques tomaram o poder na Rússia.


Leia mais sobre o assunto em:

Wisconsin: a componente de direita estadunidense

Revolta em Wisconsin

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