quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A tragédia grega

Grécia: o banco ou a vida

Por Saul Leblon na Carta Maior

Luta-se nas ruas da Grécia nesse momento. Mais de 120 mil pessoas protestam nessa 4ª feira, no 1º dia da nova greve geral contra o novo pacote de arrocho arquitetado pelo governo Papandreu em parceria ou sob as ordens da troika (FMI, Comissão Européia e BCE). Não importa mais saber quem é a mão e quem é o laço: é o pescoço da sociedade que está sob garrote implacável. Chegou-se a um ponto na Grécia em que as nuances do conflito não contam mais. Luta-se pela vida.

E contra ela, dispostos a tudo, estão os bancos credores que já deram e dão provas de seu empenho para reduzir ao mínimo as perdas com títulos de uma dívida de 300 bi de euros, cujo deságio (calote) o mercado já precifica em 50%. No papel de pescoço encontram-se 80% da população, sendo que 16% já em regime de desemprego aberto; os demais em uma espiral descendente aflitiva e devastadora.

O fato incontornável é que o ajuste imposto pelos credores, longe de afastar a sociedade grega da ruína, a cada dia empurra-a mais e mais para um sangradouro material e subjetivo que o instinto obriga a rejeitar (leia entrevista especial com o deputado da Coalizão de Esquerda, Michalis Kritsotakis, nesta pág).

Dados divulgados recentemente pela prestigiada revista da área médica, Lancet, são eloquentes: a) de 2007 a 2009, o número de suicídios saltou 17% na Grécia ; de acordo com o próprio governo, a tendência acentuou-se no primeiro semestre , quando essa taxa subiu mais de 40%; b) os homicídios e roubos quase duplicaram entre 2007 e 2009; c) o consumo de droga, heroína, em especial, disparou; d) a prostituição cresceu; e) o número de infecções de HIV decolou.

A crise do neoliberalismo atingiu na Grécia seu ponto de mutação. Deixou de ser apenas uma doença econômica para se transmudar em peste social. Por isso se luta nas ruas nesse momento.

Um comentário:

Charles K. disse...

São dados muito alarmantes, nº de suicídios, assaltos, uso de drogas. Todas as nações, européias ou não devem se juntar e fazer um plano eficiente de ajuda para a crise econômica não só da Grécia como da Europa... Primeiro Grécia, depois Portugal, Itália e outros, se não for contida essa crise, não só a Europa, mas o mundo vai sentir.
Pelas ruas a gente vê a consciência da população sobre a crise, todos sorriem e falam "bem feito para a Europa e para os EUA" mas não sabem que em um futuro próximo, se não contida, afetará em peso também o Brasil...