terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dreyfus, o “mensalão” e o Partido do Capital

Impossível ver o julgamento do chamado “mensalão” e não me lembrar do famoso caso Dreyfus.

O capitão do exército francês Alfred Dreyfus é em 1894 acusado e posteriormente condenado por crime de alta traição e espionagem. Toda a instituição do Exercito francês se voltou contra o oficial que acabou sofrendo um julgamento à portas fechadas, cheio de vícios e fraudes, baseado em documentos falsos. Não obstante, a população francesa insuflada pela imprensa conservadora se viu transformada em turba ensandecida clamando pelo linchamento moral do oficial.

Após o julgamento Dreyfus é enviado para a Ilha do Diabo a fim de cumprir lá sua pena. Todavia sua família inicia uma investigação por conta própria e descobre o verdadeiro espião.

Porém, o Exército mostra-se reticente em reconhecer seus equívocos e usa de todos os artifícios buscando salvaguardar sua própria instituição.

Nesse momento uma grande corrente de intelectuais abraça a causa – Émile Zola escreve o famoso J'accuse, cujo teor acusa vários oficiais e o gabinete de Guerra de terem sustentado um erro judiciário condenando um inocente – até que em 1906, doze longos anos após o primeiro julgamento, Dreyfus é finalmente reabilitado.

O caso rendeu vários livros e pelo menos um ótimo filme “O julgamento do capitão Dreyfus” de 1958, estrelado e dirigido por José Ferrer. Entre os livros cito “O século dos intelectuais” de Michel Winock, Editora Bertrand Russel.

Na França do século XIX o principal no julgamento de Dreyfus era preservar a instituição Exército. Já no Brasil do início desse século, o importante é salvar o que resta de credibilidade do oligopólio midiático.

O filósofo marxista italiano Antonio Gramsci chamou a grande mídia de Partido do Capital. E é essa instituição o verdadeiro polo aglutinador da oposição farisaica e entreguista, que clama ensandecidamente pelo apedrejamento em praça pública de José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e demais petistas envolvidos no chamado “mensalão”.

Aqui vale lembrar de outra coisa mais, uma frase estampada pelo jornal suíço Neue Zürcher Zeitung em 2009: (...) a imprensa brasileira é conhecida internacionalmente por trazer regularmente notícias de fatos totalmente inventados, acusações que já destruíram a vida de outras pessoas(...)”.

Aí fica a pergunta: qual democracia de fato pode teimar em existir num quadro onde o maior tribunal de Justiça do País é pautado pelo Partido do Capital?


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