quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pequena reflexão sobre o 26 de Outubro

Passados os dias a pressão vai voltando ao normal e já dá pra fazer algumas análises.

Essa foi a eleição mais acirrada de todos os tempos. Nunca uma eleição presidencial foi decidida por margem tão estreita!

A campanha dos grupos conservadores – partidos de direita, mídia, elite branca – flertou sem nenhum pudor com o golpismo e o fascismo, e transformou uma disputa eleitoral numa verdadeira demonstração de imbecilidade, ódio e desprezo à Democracia. Surgiu até uma militância tucana de rua. Na verdade anti-PT ou qualquer coisa que mesmo de longe lembre o PT (anti-Nordeste, anti-Cuba, anti-Venezuela, anti-bolivarismo, sem sequer saber o que é bolivarismo, etc e tal), dando uma energia incrível a criação da chamada “onda conservadora”.

Mas se essa onda conservadora surgiu tão forte, por que não levou o seu candidato à vitória?

Porque a antiga militância saiu às ruas. Na cabeça do político profissional e dos marqueteiros o pensamento é o seguinte: quando a eleição já está pré-definida com um candidato tendo larga vantagem sobre os demais, a militância é algo improdutivo e que mais atrapalha do que ajuda.

Porém, ah sempre existe esse bendito porém, nem sempre dá pra se decidir eleições com grande antecedência, portanto – e isso, creio eu, não passa pela cabeça dos políticos profissionais e nem pela cabeça dos marqueteiros – quando a disputa está acirrada e é decidida nos pequenos detalhes, a militância faz toda a diferença.

E agora em 2014 militância mostrou sua força e tornou-se peça fundamental para que a onda conservadora e as forças do atraso não chegassem ao poder.

No entanto, de forma alguma podemos imaginar que a militância (ou pelo menos sua grande maioria) concorde com as alianças feitas pelo PT com políticos tradicionais e profissionais (Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Kátia Abreu et caterva) ou com alguns setores dos mais atrasados de nossa sociedade (o agronegócio, alguns grupos neopentecostais) ou com o exorbitante pagamento de juros ao sistema financeiro ou com a inércia dos três primeiros governos do PT frente a urgência das reformas política, agrária, fiscal e tributária, além da urbana (só pra citar as reformas mais urgentes) ou então a sua falta de coragem em enfrentar o oligopólio da mídia.

Ainda assim a militância não é tola e tem consciência que é impossível negar a trnsformção que ocorreu no País nos últimos doze anos. O Brasil saiu do "mapa da fome", o ensino universitário passou por enorme expansão, o salário mínimo foi valorizado e... nem vou citar mais pra não ficar cansativo, tantos e inegáveis são os avanços que fizeram a militância abraçar a candidatura de Dilma Rousseff ante Aécio Neves.

Outro fator foi a própria história de vida da presidenta. Desde a sua juventude como integrante da guerrilha urbana, sua prisão e tortura, passando já como ministra de Lula por uma luta contra o câncer, até os dias mais recentes onde foi humilhada e achincalhada pela "elite branca paulista" que não conhece o significado das palavras respeito e educação.

Por último, a contraposição da biografia da presidenta em relação a do seu adversário no segundo turno. Um típico garotão do Leblon, filhinho de papai, cheio de vida fácil e arrogante que já adulto se tornou um yuppie que gosta de brincar de ser político.

A militância espontânea que não se guia pela enferrujada burocracia partidária, tomou às ruas em defesa dos avanços dos últimos doze anos e de uma mulher, cidadã brasileira, desrespeitada das mais diversas formas pela coragem que sempre teve ao fugir do papel social destinado às mulheres na sociedade machista. E também contra o yuppie ungido a novo príncipe do atraso.

Por tudo isso, dou os meus parabéns a toda a militância de norte a sul do Brasil por  não poupar esforços na luta contra o retrocesso!

Valeu!


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